Perplexidade em Paz
Sou o eterno de um tempo acabado
Personagem mítico do mundo real
De um futuro ontem, já passado
Mas ainda por chegar.
Homem moderno fragmentado
Feito de barro e tempo
Cânone sagrado dessacralizado.
Hoje sou só um boneco, atônito
Em desgovernado movimento.
Mas um dia fui Deus
Senhor do fogo e do vento
Capitão da terra
e capitão do mar.
Era capaz de parar o tempo
Quando pedra me dissolvia em ar
Homem de horários, leis e dinheiro
Sempre atrasado em meu passo apressado
Senhor de dúvidas e angustias.
Porém à noite, em silêncio,
A memória do eterno me instiga a fantasia
Vivo o isso e o jamais
Numa perplexidade em paz.
Poema de André Augusto Passari